Prototheca spp. como agente Causador de mastite

Prototheca spp. é um patógeno oportunista causador de mastite clínica e subclínica. Este agente é uma microalga, unicelular e aclorofilada, que durante a evolução filogenética perdeu a capacidade de fotossíntese. Dentre as 15 espécies de Prototheca spp. já identificadas, as  mais isoladas em casos de mastite bovina são P. zopfii (genótipos 1 e 2), P. wickerhamii  e P. blaschkeae.

No entanto, a partir de 2019,  utilizando um gene mitocondrial como marcador molecular, a P. zopfii genótipo 1 foi reclassificada como P. ciferrii, enquanto P. zopfii genótipo 2 comumente isolada de bovinos, foi renomeada como nova espécie, denominada P. bovis.

Em rebanhos bem manejados e com adequado controle de mastite, a incidência de mastite causada por Prototheca spp. é esporádica, sendo identificada em 0,1% a 5% dos casos de mastite. Um estudo recente do nosso grupo de pesquisa observou que 0,6% dos casos de mastite clínica foram causados por Prototheca spp, sendo que a maioria dos casos leves e moderados.

A mastite causada por Prototheca spp. geralmente se apresenta na forma crônica, sem sintomas clínicos e sistêmicos, mas com elevação da contagem de células somáticas (CCS). No entanto, também pode ocorrer a forma aguda e clínica, na qual podem ser observados sintomas de secreção purulenta e alta contagem de microrganismos no leite. Vacas com mastite causada por Prototheca spp. apresentam pronunciada redução da produção de leite.

Embora a Prototheca spp. possa ser sensível a alguns antimicrobianos, o tratamento da mastite não tem bons resultados devida a:

  • altos custos do tratamento,
  • grau irreversível de lesão na glândula mamária,
  • baixa taxa de cura in vivo.

O tratamento com os antimicrobianos resulta em redução apenas temporária da gravidade dos sintomas, sem  a eliminação do agente causador da mastite e as vacas tendem a permanecer infectadas com infecções crônicas.

O que aumenta o risco de mastite causada por Prototheca spp.?

Prototheca zopfii é patógeno de origem ambiental e a alta contaminação dos tetos aumenta o risco de ocorrência de novos casos de mastite. Rebanhos alojados em sistemas de confinamento total podem apresentar maior incidência de mastite causada por Prototheca spp. do que rebanhos sob pastejo, devido ao maior risco de contaminação dos tetos.

Prototheca spp. já pode ser isolada de diferentes fontes ambientais, principalmente áreas úmidas e com acúmulo de material orgânico, como solo, lama, lagoas, água de bebedouros, alimentos de animais, esterco e cama de vacas leiteiras.

A presença de Prototheca spp. nas fezes indica que este microrganismo sobrevive ao processo digestivo do trato gastrointestinal, e desta forma, pode contaminar praticamente todos os ambientes que entram em contato com as fezes das vacas. Destaca-se também que a Prototheca spp. pode ser encontrada no ambiente de rebanhos leiteiros com ou sem a ocorrência de mastite causada por este microrganismo, o que indica a distribuição no ambiente de fazendas leiteiras com ou sem histórico prévio de mastite por este agente.

Deficiências na higiene na rotina pré-ordenha das vacas leiteiras e a não oferta de alimentos após a ordenha são fatores de risco para a ocorrência de mastite causada por Prototheca spp. Restos de alimentos altamente contaminados com Prototheca spp. são fontes de contaminação ambiental e podem causar surtos de mastite causada por Prototheca spp.

Em rebanhos com alta incidência de mastite Prototheca spp. a transmissão entre vacas pode ocorrer durante a ordenha. Sendo assim, vacas infectadas podem ser uma das fontes de transmissão para as vacas sadias e de contaminação do ambiente. Rebanhos com histórico de de mastite causada por Prototheca spp. devem identificar e segregar as vacas infectadas  na ordenha. O descarte das vacas infectadas por Prototheca spp. é uma das medidas de controle da doença em nível rebanho, uma vez que o tratamento não apresenta bons resultados .

Os princípios de prevenção e controle da mastite causada por Prototheca spp. são os mesmos utilizados para controle de outros agentes causadores de mastite de origem ambiental. As medidas de controle visam reduzir a contaminação dos tetos com fezes ou água contaminada no período pré e pós-ordenha.

Entre as principais medidas preventivas, recomenda-se o uso da desinfecção de tetos antes e após a ordenha (pré e pós-dipping), oferta de alimentos para as vacas após a ordenha (para evitar que as vacas se deitem imediatamente após a ordenha) e medidas de limpeza e higiene das instalações e camas das vacas. Além disso, as vacas não devem ter acesso a locais com acúmulo de água contaminada (lagoas, poças de água), restos de alimentos contaminados ou com alta umidade e matéria orgânica.

A ocorrência de mastite causada por Prototheca spp. é esporádica e de baixa incidência em rebanhos leiteiros bem manejados. Contudo, rebanhos com deficiências de higiene das instalações, manejo de ordenha e higiene nos procedimentos de tratamentos intramamários, esta doença pode acarretar enormes prejuízos.

 

MARCOS VEIGA SANTOS

Professor Associado da FMVZ-USP

Qualileite/FMVZ-USP
Laboratório de Pesquisa em Qualidade do Leite
Endereço: Rua Duque de Caxias Norte, 225
Departamento de Nutrição e Produção Animal-VNP
Pirassununga-SP 13635-900
19 3565 4260

Publicação: Portal MilkPoint