Como proteger plantéis contra a gripe aviária e outras questões

Não misturar aves de espécies diferentes no mesmo aviário, principalmente galinhas e frangos com aves aquáticas tais como patos, marrecos, gansos ou aves silvestres. Na avicultura comercial, utilize apenas aves de linhagens comerciais, mesmo se forem aves caipiras ou de criações de subsistência. Cercar os galpões com tela é uma medida fundamental para impedir a entrada e contato direto com aves de vida silvestre.

Evitar contato de galinhas com outras aves, especialmente outras espécies de aves domésticas, aves silvestres ou aves migratórias. Se houver uma propriedade avícola com suspeita de influenza, não visite a propriedade.

Adquirir aves somente de plantéis certificados ou registrados junto ao MAPA e não comprar aves ilegalmente e nem transportar aves sem autorização oficial de trânsito animal.

Existe vacina contra influenza aviária?

Por conterem um genoma de RNA, os vírus de influenza estão sujeitos a mutações frequentes, uma vez que não possuem a capacidade de corrigir o processo de cópia do RNA durante a replicação do genoma viral para formação de nova partícula vírica. Estas mutações frequentes causam alta variabilidade dos vírus de influenza e, em consequência, os problemas com a incompleta proteção conferida pelas vacinas e pela variabilidade na patogenicidade dos diferentes vírus.

Os vírus de influenza A muito frequentemente podem intercambiar genes, principalmente em aves, gerando novos vírus e este processo de combinações de genes tem um impacto importante na biologia e evolução dos vírus na natureza e na complexidade quanto ao custo e efetividade de programas de vacinação. Devido à dinâmica evolução dos vírus de influenza é necessária a contínua revisão de cepas vacinais a serem utilizadas para vacinação.

Várias vacinas para humanos, suínos e aves estão continuamente em desenvolvimento mundialmente para que forneçam adequada proteção contra novos vírus. Entretanto, a vacinação de aves contra influenza aviária não é permitida no Brasil, uma vez que o país não registrou a presença da doença em plantéis comerciais.

O México e Itália, por exemplo, utilizaram vacinas para conter surtos da doença em plantéis de galinhas comerciais causados por vírus H5 e H7 altamente patogênicos. Vacinas para o vírus H5N1 têm sido utilizadas na Ásia na tentativa de controle do vírus. Contudo, a vacinação não foi capaz de conter totalmente o vírus H5N1 e focos da doença continuam sendo relatados mesmo em países que adotaram a vacinação, tais como a China. A vacinação das aves foi adotada principalmente para o vírus H5N1 asiático em países onde o vírus tem se mantido endêmico como estratégia de também minimizar os riscos do vírus como zoonose fatal a humanos.

Quais são as estratégias de controle da Influenza Aviária no Brasil?

A estratégia está definida por Portaria Ministerial sobre Diagnóstico e Controle de Influenza Aviária e Doença de Newcastle, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, prevendo todas as ações que devem ser tomadas pelos órgãos oficiais para conter focos da doença. A portaria define perímetros de contenção de focos, testes de diagnóstico a serem realizados, procedimentos de descarte de aves, de comercialização, abate etc.

O MAPA, além de ter estabelecido um Plano de Contingência, mantém programas de treinamento de técnicos da defesa sanitária animal sobre o diagnóstico da doença, procedimentos de controle e treinamentos de simulação de surtos. Os Serviços de Defesa Sanitária Animal, no âmbito federal e estadual, são responsáveis pela vigilância de fronteiras, portos, aeroportos e pelo recebimento de notificações de suspeitas. Apenas os Serviços Oficiais podem atuar na identificação e controle oficial de suspeitas de influenza.

O que as crises sanitárias nos países com surtos de influenza aviária demonstram?

Saber que o risco sempre existe e que se deve monitorar plantéis de aves comerciais e silvestres para identificar de imediato e eliminar qualquer foco da doença que possa ocorrer.

O vírus é facilmente inativado, mas pode resistir bem no ambiente por certo tempo, especialmente nas épocas de inverno de regiões mais frias do hemisfério norte, e em carcaças de frango congeladas. Por tanto, o comércio de aves e produtos avícolas deve ser muito bem controlado.

É essencial a adoção de medidas rigorosas de biossegurança das granjas e a adoção de boas práticas de produção, que reduzem os riscos de contato e entrada de aves ou materiais infectados nos variados sistemas de produção de aves.

Ficar em alerta e monitorar os relatos de disseminação do vírus em outros países é essencial para se prever os riscos da chegada do vírus.

Os casos de surtos em outros países demonstram que a prevenção depende em grande parte de monitoramento constante das aves: o MAPA e órgãos estaduais de Defesa Sanitária Animal executam as várias ações de defesa sanitária para controle de entrada de influenza, entre as quais:

  • Monitoria periódica de aves comerciais e migratórias
  • Quarentena de todas as aves importadas em instalações portuárias e de aeroportos com biossegurança adequada para contenção do vírus
  • Controle de trânsito de aves vivas no país: exigência de certificação de diagnóstico negativo de influenza aviária e doença de Newcastle
  • Controle de comércio de aves vivas
  • Treinamento de médicos veterinários no diagnóstico de suspeitas de casos, coleta e envio de material suspeito para o laboratório, metodologias de contenção de surtos, treinamentos simulados de ação sobre focos da doença

Como as pessoas que tiveram contato com aves suspeita de infecção pelo vírus devem proceder?

Nesse caso, lavar bem as mãos e corpo após contato com as aves. Somente o Serviço Veterinário Oficial pode confirmar se a suspeita é fundamentada. Também deve contatar os serviços de saúde oficiais (agricultura e saúde) do município para orientações.

O Plano de Contingência para Influenza estabelecido pelo MAPA prevê as ações exercidas por veterinários do serviço oficial do estado, município ou federal. A eles compete supervisionar:

  • Uso de máscaras de proteção para evitar respirar o vírus excretado pelas aves nas secreções nasais, oculares, fezes, assim como a poeira do ambiente contaminado
  • Eliminar rapidamente as aves infectadas – enterrar as aves e cama e desinfetar completamente os aviários. As aves infectadas devem ser eliminadas na propriedade e, por tanto, não podem ser levadas ao abatedouro
  • O transporte de aves com influenza não é permitido na legislação de controle de focos da doença e o controle de suspeitas da doença deve ser supervisionado pelos Serviços Oficiais de Defesa Sanitária Animal
  • Evitar contato entre lotes doentes e os não infectados

A influenza aviária é considerada exótica na avicultura doméstica no Brasil e não há ainda recomendação de vacinação, sendo o controle baseado na eliminação dos lotes de aves doentes e em áreas de risco e erradicação da doença.

 Qual o risco de contaminação ao homem?

Não há registros de infecção de pessoas por vírus aviários no Brasil. No entanto, a situação mundial do vírus da gripe aviária A(H5) difere da realidade brasileira. Desde a última avaliação de risco em 30 de agosto de 2022, um caso humano de infecção pelo vírus influenza A (H5N6) foi relatado na China.

Mesmo com essa notificação, a avaliação geral do risco permanece inalterada, ou seja, o risco de contaminação humana é muito baixo, pois a influenza aviária não foi diagnosticada em aves domésticas no Brasil. Além disso, não há evidências que sugiram que o A(H5), A(H7N9) ou outros vírus da gripe aviária possam ser transmitidos a humanos através da carne ou ovos devidamente preparados. A maioria dos casos humanos foram infecções esporádicas expostas ao vírus A(H5) através do contato com aves infectadas ou ambientes contaminados, incluindo mercados de aves vivas. Alguns casos humanos de influenza A(H5N1) foram associados ao consumo de pratos feitos com sangue de aves cru e contaminados. O controle da circulação dos vírus da gripe aviária em aves é essencial para reduzir o risco de infecção humana. Portanto, os riscos de contaminação humana são maiores em regiões do mundo onde o vírus não é controlado e onde já tenham ocorrido registros de vírus aviários capazes de infectar diretamente humanos. A Ásia, norte da África e Oriente Médio são as regiões no mundo onde ocorreram mais casos humanos devido ao contato direto de pessoas com aves infectadas com alguns dos poucos subtipos de vírus capazes de infectar humanos.

A contaminação humana ocorre por contato direto com secreções de aves infectadas – especialmente feiras de aves vivas, fezes de aves, sangue, aves mortas.

Todos os vírus de influenza aviária causam doença em humanos?

Não. Alguns subtipos de vírus aviários adquiriram a capacidade de infectar humanos, mas nem todos os casos já confirmados de infecção humana causaram doença grave.

Os subtipos de vírus de influenza aviária já diagnosticados em humanos são:

  • H3N8: O primeiro caso de infecção humana pelo vírus da gripe aviária A(H3N8) foi notificado em abril de 2022 à OMS. Até o momento (novembro/20222), um total de 2 casos confirmados laboratorialmente de infecção humana pelo vírus influenza A(H3N8) sem morte foram relatados à OMS na região do Pacífico Ocidental. Outras investigações epidemiológicas e virológicas deste evento estão em andamento. As informações epidemiológicas e virológicas disponíveis atualmente são limitadas, mas sugerem que este vírus da gripe aviária A(H3N8) não adquiriu a capacidade de transmissão sustentada entre humanos, portanto, o risco em nível nacional, regional e internacional de propagação da doença entre humanos é avaliado como baixo. O subtipo viral da gripe aviária A(H3N8) é comumente detectado globalmente em animais e representa um dos subtipos mais encontrados em aves selvagens, causando mínimo ou nenhum sinal de doença em aves domésticas ou aves selvagens.
     
  • H5N1: Os primeiros casos de doença grave e mortalidade de pessoas infectadas por um vírus de influenza aviária foram relatados em Hong Kong em 1997 e foram causados por um vírus asiático do subtipo H5N1. Alguns anos depois, a partir do final de 2003 e 2004, novos casos de doença grave, com mortalidade de mais de 60% das pessoas infectadas pelo vírus H5N1 se disseminaram em diferentes regiões do sudeste da Ásia. A doença em humanos tem sido resultado de contato direto com aves infectadas com o vírus asiático H5N1 altamente patogênico e até hoje não houve confirmação ou evidências epidemiológicas e virológicas que o vírus influenza A(H5) adquiriram a capacidade de transmissão sustentada entre humanos, portanto, a probabilidade é baixa de transmissão direta entre pessoas. Alguns casos esporádicos foram relatados e podem ter sido resultado de contato direto com pessoas doentes em fase aguda com excreção de altos títulos de vírus. Mas a transmissão entre pessoas não foi resultado da adaptação do vírus e o H5N1 ainda não adquiriu capacidade de replicação no trato respiratório superior para transmissão por tosses, espirros e secreções, a exemplo da forma que ocorre normalmente na transmissão dos vírus de influenza humana e que ocorrem sazonalmente em humanos.
     
  • H7N7 e H7N3: causaram doença com sintomas brandos, tais como conjuntivite.
     
  • H7N4: até novembro/2022, apenas um caso confirmado laboratorialmente de infecção humana pelo vírus influenza A(H7N4) foi relatado à OMS. Este caso foi relatado na China em 14 de fevereiro de 2018.
     
  • H9N2: Um vírus H9N2 de baixa patogenicidade em aves causou doença leve em Hong Kong, inicialmente em 1999, depois em 2003, e novos casos foram relatados pela OMS em Bangladesh em 2011 e Hong Kong em 2015. Um total de 78 casos de infecção humana com influenza aviária A(H9N2), incluindo duas mortes (ambas com condições subjacentes), foram relatados à OMS na região do Pacífico Ocidental desde dezembro de 2015. Destes, 76 foram relatados na China e dois foram relatados do Camboja.
     
  • H5N6: A primeira detecção de um vírus H5N6 fatal em humanos ocorreu na China em abril 2014. A infecção humana foi relatada novamente em dezembro 2014 e fevereiro de 2015. Até o momento (novembro/2022), foram notificados um total de 82 casos confirmados laboratorialmente de infecção humana pelo vírus influenza A(H5N6), incluindo 33 mortes, foram relatados à OMS na região do Pacífico Ocidental desde 2014.
     
  • H10N8: Em aves domésticas e silvestres. Em humanos ocorreram três casos de doença grave, com duas mortes na China (2013-2014). Este vírus aviário se originou pela combinação com genes internos de vírus H9N2. Análise feita por pesquisadores quanto à evolução de vírus H10 no Sul da China identificou ter havido vírus precursor do subtipo H10N8 que ocorria em patos e eventualmente se adaptou a galinhas, rearranjando com genes de um vírus H9N2 que também circulava em galinhas.
     
  • H10N3: Dois casos foram relatados em humanos, todos na China e o último aconteceu em junho de 2022. A extensão da circulação e epidemiologia desse subtipo viral em aves não é clara. Vírus H10N3 com diferentes características genéticas foram detectados anteriormente em aves migratórias e em outras aves selvagens desde a década de 1970. Onde quer que o vírus H10N3 circule nas populações de aves, podem ser esperados casos esporádicos de infecção em humanos.
     
  • H7N9: Até o momento, um total de 1.568 infecções humanas confirmadas em laboratório pelo vírus da gripe aviária A(H7N9), incluindo 616 casos fatais (CFR: 39%), foram relatados à OMS desde o início de 2013. O último caso de infecção humana com a gripe aviária A(H7N9) relatado à OMS na região do Pacífico Ocidental foi em 2019.
    Das 1.568 infecções humanas com influenza aviária A(H7N9), 33 relataram mutações no gene da hemaglutinina indicando uma mudança para alta patogenicidade em aves. Esses 33 casos eram de Taiwan, China (um caso tinha histórico de viagem para Guangdong), Guangxi, Guangdong, Hunan, Shaanxi, Hebei, Henan, Fujian, Yunnan e Mongólia Interior. Nenhum aumento da transmissibilidade ou virulência do vírus em casos humanos foram detectados relacionados ao vírus HPAI A (H7N9). A OMS continua a avaliar a situação epidemiológica e realizará outras avaliações de risco conforme novas informações se tornam disponíveis. O número e a distribuição geográfica de infecções humanas com vírus da gripe aviária A(H7N9) na quinta onda epidêmica (1 de outubro de 2016 a 30 de setembro de 2017) foram maiores do que as ondas anteriores e as ondas subsequentes.

  • Outros casos humanos esporádicos de infecção pelo vírus da gripe aviária A(H7N9) são esperados em áreas afetadas e possivelmente vizinhas. Caso humanos de áreas afetadas viagem internacionalmente, sua infecção pode ser detectada em outro país durante ou após a chegada. No entanto, se isso ocorrer, a disseminação no nível da comunidade é considerada improvável, pois o vírus não tem a capacidade de se transmitir facilmente entre humanos. Até o momento, não há evidências de transmissão sustentada de humano para humano do vírus da gripe aviária A (H7N9). Infecções humanas com o vírus A(H7N9) são incomuns e precisam ser monitoradas de perto para identificar mudanças no vírus e no comportamento de transmissão para humanos, pois isso pode ter sérios impactos na saúde pública.

 Quais são os riscos a humanos?

 A denominação usada para os vírus de influenza apenas identifica o subtipo de vírus, mas não indica que seja um vírus capaz de infectar humanos. Vírus de um mesmo subtipo podem ser bastante diferentes entre si e podem ser geneticamente distintos dependendo da região em que ocorrem, espécies hospedeiras e período do ano. Embora pequenos grupos de infecções por vírus A(H5) tenham sido relatados anteriormente, incluindo aqueles envolvendo profissionais de saúde, as evidências epidemiológicas e virológicas atuais sugerem que os vírus influenza A(H5) não adquiriram a capacidade de transmissão sustentada entre humanos, portanto, a probabilidade é baixa.

Caso os indivíduos infectados das áreas afetadas viagem internacionalmente, sua infecção pode ser detectada em outro país durante a viagem ou após a chegada. Se isso ocorrer, a disseminação adicional no nível da comunidade é considerada improvável, pois as evidências sugerem que esses vírus não adquiriram a capacidade de se transmitir facilmente entre humanos.

O vírus H7N9, que até 2015 causou infecções humanas na Ásia, tem causado grande preocupação aos órgãos internacionais de saúde, pois há indicações de que este vírus seja facilmente transmitido de aves a humanos. Outra preocupação e alerta são as evidências de que os vírus asiáticos H5N1, H9N2 e H7N9 circulando na Ásia vêm se combinando a outros vírus que circulam na região e podem eventualmente ser transmitidos a outras regiões do mundo.

Essa situação de contínuo surgimento de novos vírus e a contínua evolução do H5N1 asiático chama a atenção para a extrema importância de monitoramento constantemente de vírus de influenza circulando em populações de aves domésticas e silvestres, e análises de riscos de novos vírus com potencial de zoonose (infecção humana por agente infeccioso de origem animal).

De acordo com relatórios da OMS, os vírus de influenza aviária A(H5N1) e A(H7N9) permanecem como os dois vírus de influenza com potencial pandêmico, uma vez que continuam a circular amplamente em populações de aves domésticas e para os quais os humanos não terão imunidade protetora. [https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/influenza-(avian-and-other-zoonotic, acesso 10/11/2022).

A OMS já vem trabalhando na definição de quais vírus H7N9 poderão compor uma vacina humana em caso de uma pandemia.

É essencial, portanto, o controle de todo e qualquer surto de influenza aviária em aves domésticas, mesmo quando causados por vírus de baixa patogenicidade em galinhas, uma vez que já foi demonstrado que vírus dos subtipos H5 ou H7 de baixa patogenicidade para aves podem se adaptar e mutar rapidamente em poucos meses e adquirir alta patogenicidade se for permitida a sua circulação na população de aves. Os vírus circulando em aves e que adquirirem maior patogenicidade para aves domésticas, além dos enormes prejuízos para a avicultura, aumentam os riscos de surgimento e evolução de novos vírus com potencial de infectar humanos. Reconhecer e rapidamente eliminar focos da doença em aves é a melhor estratégia de controle de influenza aviária na avicultura. O controle da disseminação da doença em aves também reduz os riscos de contaminação de humanos por meio do contato com aves infectadas.

Publicação: Embrapa Suínos e Aves