Suplementação mineral de bovinos de corte: pontos de atenção e importância

Antes de começar, é importante ressaltar que os bovinos em geral, assim como qualquer outro ser vivo, possuem demandas de nutrientes para atender suas exigências de mantença. E, por serem animais de produção, vão demandar uma quantidade extra para atender às metas de ganho de peso almejada e/ ou reprodução.

Sendo assim, além das demandas nutricionais diárias para se manter vivo, o animal precisará de uma dose extra para produzir. No texto de hoje, vamos abordar um pouco mais sobre a suplementação mineral e destacar alguns pontos de atenção que devem ser monitorados no dia a dia da fazenda.

Isto porque, conduzir um sistema de produção sem a devida mineralização dos animais é como correr uma maratona descalço! O atleta pode ter o melhor potencial da competição, mas sem o básico (sapatos) ele vai:

  • sentir mais o impacto das pedras ao longo do caminho,
  • reduzir seu desempenho (velocidade) e
  • correr o risco de demorar muito tempo para alcançar a linha de chegada.

Em bovinos, a história não muda. O animal pode ter o melhor potencial genético, mas se não houver o básico (CONSUMO adequado de minerais), seu desempenho estará fortemente limitado.

Dado que o sistema de produção brasileiro é predominantemente a pasto, e as concentrações de minerais presentes nos capins raramente atendem à demanda dos animais, falar em suplementação mineral bem-feita é obrigação.

De nada vale o melhor produto, com os melhores níveis em sua composição, se o consumo não estiver de acordo com o que foi preconizado!

Dentro da porteira: pontos de controle

Um bom programa de suplementação mineral é altamente dependente de fatores operacionais, estruturais e de uma equipe capacitada e comprometida. A somatória das boas práticas de salgação deve ter como objetivo prover ao animal a mineralização adequada (ver meta de consumo estabelecida) de forma regular.

A seguir, estão listados 7 pontos importantes relacionadas ao sucesso da salgação:

  1. Estrutura de cocho adequada

a) Quantidade linear por cabeça: 5 a 10 cm/animal

Figura 1 – O tamanho de cocho deve ser adequado ao tamanho do lote

b) “Pé do cocho” bem aterrado, boa drenagem de água

Figura 2 – A lama reduz consumo

c) Manutenção em dia, tanto da cobertura, quanto do cocho (Figura 3)

d) Escoamento correto de água no cocho (Figura 4)

e) Coberto, de preferência

2. Bebedouro limpo: água de qualidade para os animais

Figura 5 – Bebedouro tem que ser limpo

3. Planejamento do fornecimento

Considerar o tamanho do lote (nº de animais) para colocar a quantidade de sacos correta.

No exemplo abaixo, em um lote contendo 120 animais serão fornecidos 2,5 sacos para o período de 3 dias.

Preste atenção: se a mesma quantidade for fornecida a um lote com 150 animais, o consumo será 22% abaixo do recomendado.

4. Criar uma rotina de fornecimento

a) Dia determinado para abastecer o cocho;
b) Dia determinado para abastecer o depósito;
c) Estabelecer as pessoas responsáveis.

5. Ter boa comunicação entre a equipe de manejo do gado e a equipe de “salgação”

a) Comunicação com antecedência, em especial para fazenda com mais de um retiro;
b) Estabelecer 1 dia da semana para listar de quais pastos serão retirados os animais, o dia da retirada e em qual pasto entrarão;
c) Registrar e comunicar a quantidade de animais em cada pasto.

6. Anotar o fornecimento para avaliar o consumo (fichas de controle)

Figura 6 – Exemplo de caderneta para avaliar consumo de suplemento

a) Em cada pasto:

              • Registrar a data do fornecimento;
              • Registrar a quantidade de sobra;
              • Registrar a quantidade fornecida.

7. Fazer um fechamento quinzenal/mensal do consumo

a) Calcular consumo/cabeça/dia de todos os pastos;
b) Analisar os dados;
c) Tomar decisões baseada no consumo por categoria, retiro, pasto etc.

A salga parece ser simples, mas se não for feita corretamente, pouco resolve! Um bom treinamento da equipe e boa gestão de pessoas é fundamental, pois elas estão envolvidas em cada processo da fazenda e refletem diretamente nos resultados.

EQUIPE ALINHADA TRAZ RESULTADOS! Anule o óbvio.

Sumplementação mineral: a função e importância dos minerais

Os minerais estão envolvidos em inúmeras funções do organismo e são fundamentais para o músculo, ossos e órgãos. São essenciais para:

  • estrutura do corpo (ossos, dentes, órgãos, tecidos),
  • funções fisiológicas (corrente sanguínea, equilíbrio interno de células etc.),
  • combate a doenças. melhorando a resposta imune (produção de anticorpos, resistência a doenças),
  • atua sobre fatores reprodutivos (espermatogênese, desenvolvimento fetal) e tantas outras funções.

A importância de atender as necessidades de cada mineral, segue o raciocínio de que eles estão envolvidos em inúmeros processos (Quadro 1) e se houver qualquer limitação, os processos também serão limitados e o resultado será prejudicado.

Quadro 1 – Listagem e breve descrição da função dos minerais

Símbolo Nome Funções e características
Ca Cálcio Compõe os ossos; contração muscular (maciez de carne); ativador enzimático; necessita de fósforo
P Fósforo Formação e mineralização óssea; crescimento; formação de aminoácidos e proteínas
Mg Magnésio Metabolismo de carboidratos e lipídeos
Na Sódio Transporte de glicose e aminoácidos; balanço hídrico; equilíbrio celular; pressão osmótica;
K Potássio Contração muscular, equilíbrio celular; importante para enzimáticas
S Enxofre Importante para formar aminoácidos, hormônio; crescimento microbiano; combate intoxicações
Mn Manganês Desempenho reprodutivo; estímulo a puberdade, desenvolvimento do esqueleto
Zn Zinco Combate ao estresse; ativa enzimas; compõe enzimas; participa do sistema imunológico; atua na reprodução (crescimento do feto); aumenta a capacidade de fertilização do sêmen
Cr Cromo Combate estresse; aumenta absorção de glicose; melhora consumo, eficiência e desempenho no início do confinamento
Cu Cobre Combate estresse; metabolismo lipídico; ativação de enzimas; formação de anticorpos para Brucella abortus
I Iodo Metabolismo energético; função e composição hormonal;
Co Cobalto Metabolismo energético; síntese de vitamina B12; metabolismo do propionato; reprodução (atividade ovariana, apresentação de estro)
Se Selênio Combate estresse; ativador enzimático; reprodução (expulsão da placenta);

 

Isto nos remete a lembrar do esquema do barril (Figura 7), onde as tábuas do barril são os minerais e nutrientes e a água, o ganho de peso do animal, ou índices reprodutivos.

Figura 7 – Esquema do barril e suprimento de minerais

Se houver um mineral sendo fornecido abaixo da exigência (no caso o fósforo), a água do barril não vai alcançar o máximo de sua capacidade. Isto é, o ganho de peso, ou a taxa de prenhez pretendidos não serão alcançados.

No quadro abaixo, estão listados 10 sintomas relacionados à deficiência mineral.

10 SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA MINERAL
Apetite depravado Consumo de terra, pano, plástico; roer madeira, ossos, árvores; lambem uns aos outros; avidez por sal comum
Aspecto fraco ou doentio A aparência dos animais transmite que estão doentes, baixa atividade, “tristes”
Redução do apetite Baixo interesse em consumir alimento; vazio profundo; baixo escore corporal
Anomalia dos ossos Ossos cumpridos ficam curvados e as extremidades se dilatam; podem ser porosos e quebradiços
Fraturas frequentes Mediante manejo, os ossos podem ser quebrados com facilidade devido a fragilidade do esqueleto
Anomalias na pele Despigmentação, queda de pelos, ressecamento, descamação
Baixa produtividade Crescimento retardado, baixíssimo ganho de peso ou perda de peso
Crescimento retardado Animais após 2 anos de idade, por exemplo, possuem altura reduzida (retardada); desenvolvimento corporal limitado
Baixa fertilidade Ausência de estro, aborto, retenção de placenta, baixa produção do bezerro
Baixa resistência a doenças Facilmente infestados de parasitas; comportamento deprimido

 

Higor Rocha
Higor Rocha é Consultor de Serviços Técnicos de Bovinos na Agroceres Multimix
Publicação: Portal Agroceres Multimix