Entretanto, a reidratação com água nem sempre é a única opção viável. O soro de leite, um subproduto da indústria de laticínios, tem se mostrado uma alternativa promissora para a reidratação do milho.
O soro de leite é o líquido que resta após a separação da coalhada na produção de queijos. Representa cerca de 85–90% do volume do leite e contém 55% dos nutrientes presentes nele, incluindo proteínas solúveis, lactose, minerais e vitaminas, que são de grande valor nutricional.
Como esse subproduto é gerado em grandes volumes pelas indústrias de laticínios, o soro pode representar um desafio ambiental quando descartado de forma inadequada, pois pode causar danos aos recursos hídricos e ao solo. Por isso, utilizar o soro de leite na reidratação do milho pode ser uma estratégia eficiente para evitar o desperdício desse resíduo, ao mesmo tempo que agrega valor nutricional à silagem.
O soro de leite pode ser dividido em duas categorias principais, conforme seu processo de fabricação: o soro ácido, com pH inferior a 5, originado por processos de fermentação ou coagulação com ácidos orgânicos ou minerais, e o soro doce, com pH entre 6 e 7, proveniente da coagulação da caseína por enzimas como a quimosina. O soro doce, devido ao seu alto teor de gordura, lactose e proteínas, tem maior valor nutricional, enquanto o soro ácido, apesar de ter mais ácido lático, cálcio e fósforo, pode ser menos adequado para a nutrição animal, mas ainda assim é eficaz para melhorar o processo fermentativo da silagem.
O uso do soro de leite na reidratação de milho para silagem tem demonstrado bons resultados. Estudos mostram que a silagem de milho reidratada com soro ácido apresenta um aumento significativo na produção de ácido lático, o que favorece a preservação do material ensilado e melhora a estabilidade aeróbia. Isso ocorre porque o ácido lático é um dos principais responsáveis pela acidificação da silagem, inibindo o crescimento de microrganismos indesejáveis e melhorando a qualidade do produto final. Além disso, o uso do soro ácido na ensilagem também contribui para a diminuição da fibra detergente neutro (FDN), o que pode ser benéfico para a digestibilidade da silagem pelos animais.(EL-SHEWY, 2016)
O experimento conduzido por Rezende et. al. envolveu a reidratação de grãos de milho moídos com água ou soro ácido, em diferentes volumes (300, 350 e 400 mL/kg de grão de milho), e avaliou o impacto dessa prática na produção de silagem. Os resultados indicaram que a silagem reidratada com soro ácido não só produziu mais ácido lático do que a reidratada com água, mas também resultou em uma maior estabilidade aeróbia e em um melhor perfil fermentativo.
A utilização de inoculantes bacterianos-enzimáticos também tem mostrado resultados positivos. O uso de cepas de bactérias lácticas como Lactobacillus e Pediococcus no processo de inoculação, juntamente com a reidratação com soro de leite ou água, pode melhorar ainda mais as características fermentativas da silagem, garantindo um produto final de alta qualidade nutricional. Isso se reflete no aumento das concentrações de minerais como cálcio e fósforo e na melhoria da digestibilidade da matéria seca da silagem, que foi de 79,26% no estudo realizado. (REZENDE et al., 2014; ZANIN et al., 2022)
Ao comparar a silagem reidratada com soro ácido e água, observou-se também um aumento de 31,36% no teor de matéria seca (MS) e de 2,19% no teor de cinzas na silagem reidratada com soro (CRUZ, 2021; ZANIN et al., 2022). Esses resultados indicam que o soro ácido pode contribuir para o aumento da densidade energética da silagem, sem comprometer a qualidade da fermentação, o que é um ponto positivo para a nutrição dos animais.
A utilização do soro de leite na reidratação do milho para silagem é uma estratégia vantajosa, não só para melhorar o valor nutricional da silagem, mas também para a destinação adequada de um subproduto da indústria de laticínios.
Referências
CRUZ, F. N. F. D. QUALIDADE DA SILAGEM DE MILHO REIDRATADO COM ÁGUA OU SORO DE LEITE ASSOCIADA COM INOCULANTE BACTERIANO-ENZIMÁTICO. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Zootecnia—Montes Claros: Universidade Estadual de Montes Claros, 17 dez. 2021.
EL-SHEWY, A. A. Whey as a Feed Ingredient for Lactating Cattle. Science International, v. 4, n. 3, p. 80–85, 1 mar. 2016.
REZENDE, A. V. et al. Rehydration of corn grain with acid whey improves the silage quality. Animal Feed Science and Technology, v. 197, p. 213–221, nov. 2014.
ZANIN, E. et al. Efectos del suero ácido sobre la calidad química fermentativa y la estabilidad aeróbica del ensilado de grano de maíz rehidratado. Revista Mexicana de Ciencias Pecuarias, v. 13, n. 4, p. 943–961, 9 set. 2022.
MARIA LUÍZA TERRA
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