Impactos da tripanossomose bovina sobre a pecuária de leite

Esse trabalho é um resumo do TCC desenvolvido pelo jornalista Luiz Carlos Rodrigues

quando da realização do seu curso de MBA em Agronegócio na

Esalq/USP – 2021/22

 

Resumo

A Tripanossomose bovina causada pelo Tripanosoma vivax, é uma grave doença que afeta os ruminantes. A pecuária de leite sente mais a enfermidade, pois ela passa por um processo constante de manejo, na maioria das vezes, sem os cuidados específicos. Trabalho nesse sentido foi desenvolvido em Goiás a partir de 2015, quando se descobriu que os maiores vetores dessa enfermidade são as agulhas contaminadas e compartilhadas (Bastos; 2015). 

Também a contaminação biológica existe através da mosca Mutuca Tabanus sp, entre elas, Tabanus bromius e Tabanus sudeticus, (infoteca Embrapa 1998). Sobre a possível infecção através das moscas Stomoxys calcitrans (Mosca de estábulos) e Haematobia irritans (Mosca-dos-chifres), isso está totalmente descartado conforme resultados de pesquisas recentes através de parceria entre a Embrapa Gado de Corte – MS, e a Universidade Federal de Goiás. 

 A transmissão da Tripanossomose bovina pode ser influenciada pelo nível de parasitemia no que se refere aos hospedeiros. Isso significa que animais nessas condições, atuam como maiores fontes de contaminação em relação ao restante do rebanho com índice de parasitemia inferior, (Bastos; 2015). 

Animais infectados apresentam sinais clínicos comuns a diversas outras doenças como a Tristezinha Parasitária. Isso dificulta o diagnóstico, o que afeta sobremaneira o tratamento precoce. Este estudo divulgou o primeiro caso de Tripanossomose bovina causada por T. vivax no Estado de Goiás. Outros casos foram registrados num período de 24 meses, demonstrando aspectos epidemiológicos com o uso de agulhas sem descartes e a comercialização de animais infectados que provocaram a dispersão da doença em outras regiões do País, (Bastos, 2015.)  

O tripanosoma vivax foi capaz de infectar e desenvolver a Tripanossomose em animais jovens, se inoculados ou não pela via intradérmica, subcutânea, intramuscular ou endovenosa, segundo as pesquisas sobre a contaminação, (Bastos, 2015). Uma indagação que se pode fazer é a seguinte: a Instrução Normativa 50 de setembro de 2013 do MAPA, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, inclui em seus anexos a Tripanossomose vivax  Bovina no rol das doenças de notificação obrigatória surgida em animais picados pela mosca Tsé Tsé. No Brasil, não existe esse inseto hematófago. Sendo assim, os técnicos consideram que esse documento “não é muito abrangente” mesmo porque, o órgão oficial de defesa sanitária do Estado de Goiás – Agrodefesa, quando notificado, só orienta o produtor a procurar ajuda no setor particular, ressaltando que depois monitora o evento, já que a notificação não é imediata por se tratar de uma hemoparasitose. 

 

As fontes de contaminação

 

 Em muitas propriedades é sabido que há o uso indiscriminado e compartilhado de agulhas para a aplicação de compostos químicos nos animais, seja para cura de doenças seja para outros fins de manejo como a ocitocina injetável para a descida do leite antes da ordenha (BASTOS et al., 2017). Isso tem contribuído fortemente para a disseminação da doença não só em Goiás, mas em outros estados já que há frequentes comercializações de bovinos entre produtores de diversas áreas do País.

Essa doença proveniente da África e lá causada pela picada da mosca Tsé Tsé foi descoberta no início do século passado e introduzida na América do Sul por volta de 1830, com o transporte de bovinos infectados provenientes do Senegal (Osório et al; 2008; Ventura et al; 2001).

No caso do Brasil, os primeiros casos foram relatados por volta de 1946. A partir daí, constantemente essa doença vem grassando para o resto do País. Durante aproximadamente 30 anos, desde os primeiros relatos de Tripanossomose vivax no Brasil que aconteceu no estado do Pará em 1972 (Shaw e Lainson,1972), até por volta do ano de 2000, esse protozoário era considerado endêmico e importante apenas para rebanhos de bovinos de corte da região pantaneira (Paiva et al; 2000; Silva et al;1996), que envolve os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Depois desse evento por cerca de 16 anos, a doença se espalhou por vários estados inclusive do Nordeste, (Batista et al; 2007, Guerra et al; 2008, Cadioli et. al; 2012, Silva et al, 1996) (Figura – 1).

O objetivo desse trabalho foi fazer um diagnóstico da doença em animais no Estado de Goiás, com o intuito de alertar a toda a cadeia produtora de leite sobre os perigos em relação à Tripanossomose vivax em bovinos. Além de não se ter confirmação de cura, essa doença, para efeito de melhor controle, é classificada pela Instrução Normativa Nº. 50 do [MAPA] como sendo “Doença de Notificação Obrigatória” como ocorre com a Febre Aftosa, Tuberculose, Brucelose, Newcastle (aves) entre outras doenças, embora o mal em questão não seja considerado uma zoonose em se tratando dos bovinos. Isso tem gerado uma certa negligência por parte dos pecuaristas no que se refere à notificação junto ao órgão público de controle sanitário dos rebanhos.

Início em Goiás

O Estado de Goiás registrou pela primeira vez a presença da Tripanossomose no ano de 2015 porém, com poucas e reduzidas informações, levando-se em consideração os aspectos clínicos, epidemiológicos, formas de se diagnosticar o mal e seu tratamento. O histórico da doença no País (Figura 1) e sua disseminação motivaram um trabalho de parceria entre a Universidade Federal de Goiás, através da Escola de Veterinária e Zootecnia, e o Fundo Emergencial para a Sanidade Animal de Goiás – Fundepec-GO.

 Os trabalhos foram coordenados pelo médico veterinário Thiago Souza Azeredo Bastos, quando do desenvolvimento de sua tese de doutorado tendo como tema: “Aspectos Clínicos e Epidemiológicos e Tratamento da Tripanossomose Bovina por Tripanosoma Vivax no Estado de Goiás.” Essa pesquisa iniciada em 2015 até o ano de 2019, investigou e reuniu informações importantes sobre essa doença. O trabalho apontou que os animais infectados apresentam sinais clínicos iguais a diversas outras doenças o que dificulta sobremaneira o diagnóstico e o tratamento precoce. Os sinais mais comuns da Tripanossomose vivax são: anemia, febre, perda de peso e redução dos índices de produtividade, além da prostração, aborto e morte dos animais (Bastos et al., 2017).

 

Paralelamente a essas verificações, a iniciativa determinou a eficácia de diferentes protocolos de tratamento com Diminazene, Imidocarb e Isometamidium. Essa eficácia se resume tão somente no controle da Tripanossomose vivax. Não se tem notícia de cura total e nem as pesquisas com mais de 4 anos em Goiás comprovaram a cura. Por sinal, essas pesquisas abrangeram cerca de 42 fazendas em 28 municípios.

 Somente entre maio de 2015 a maio de 2017, foram colhidas 4.049 amostras sanguíneas de animais oriundos dessas 42 propriedades rurais (Bastos et al., 2017). Os resultados alcançados mostraram que o surto da doença foi diagnosticado em 358 animais (8,84%) de vacas girolando de 24 fazendas localizadas nas regiões Central, Sul e Sudoeste de Goiás. Foram constatadas presenças de moscas nessas propriedades (S. calcitrans e H. irritans) porém, no período da pesquisa não se apresentaram como fator de risco (P<0,05) para ocorrência desse protozoário. 

Após a constatação dos surtos, houve um decréscimo de 39,62% na produção média diária de litros de leite das vacas. Essas constatações levaram os pesquisadores a acreditarem que a aquisição de novos animais portadores de Tripanossomose vivax, e com o uso indiscriminado da ocitocina exógena nas vacas a cada ordenha, utilizando-se da mesma agulha e seringa entre os vários animais, foram os principais fatores de risco (P<0,05) para a disseminação deste hemoparasita por todo o Estado de Goiás e outras regiões do País. (Bastos 2015)

 Dados obtidos denotam a importância de se coibir a prática da comercialização de animais de aptidão leiteira infectados em diversos eventos de vendas coletivas (leilões), bem como eliminar o uso de ocitocina exógena nas vacas durante a ordenha sem os cuidados necessários. Como agravante se descobriu que o produtor, ao saber que o animal estava infectado, o revendia para produtores do Estado ou de outras regiões, sem qualquer informação aos   órgãos federal e estadual de controle sanitário dos animais, prática essa registrada não só em Goiás, mas em outras regiões do País (Bastos et al., 2017).

Figura 1: Distribuição dos casos registrados de Tripanossomose bovina no Brasil de acordo com ocorrência nos estados. Fonte: Dados originais da pesquisa – (Bastos 2017)

Esse trabalho em Goiás foi desenvolvido também através de pesquisas in loco ou em artigos e demais literaturas acadêmicas, por meio de materiais disponíveis na Internet e em outras plataformas de comunicação, a fim de entender melhor e poder chegar a uma conclusão com base no que foi estudado. Tais bibliografias utilizadas tiveram como objetivo principal levantar dados pertinentes ao tema: Impactos da Tripanossomose vivax na Pecuária de Leite. As pesquisas consultadas estão inseridas preferencialmente entre 2015 até 2022

Para a realização das pesquisas sobre a incidência da Tripanossomose vivax em gado bovino e o manejo com medicamentos de possível cura ou controle, a Universidade Federal de Goiás, em parceria com o Fundepec-Goiás, adquiriu 25 animais jovens da raça girolando. Esses animais foram adquiridos junto à uma propriedade rural livre de T. vivax no município de Goiatuba-Goiás, a 140 quilômetros de Goiânia.

A etapa experimental desse estudo foi realizada entre fevereiro e março de 2017. Ao serem colocados em galpão próprio todos os bezerros receberam medicação contra helmintos (vermes). A presença de T. vivax nesses animais foi negativa de acordo com o diagnóstico pelos métodos de Woo (Woo, 1970), Brener (1961), extensões sanguíneas (Dagnachev et al 2015) e PCR convencional (cPCR- Cortez et al 2009). Foi confirmado novamente nos 25 bezerros no Dia 1 da pesquisa, antes da administração do inóculo.

Como inóculo, foi usado o isolado Ipameri (Bastos et al, 2017, código de acesso Genbank MK 392089), mantido crio-preservado (com 8% de glicerol) em nitrogênio líquido. Na sequência dos trabalhos de pesquisa no Dia-6, as amostras do T. vivax foram descongeladas e inoculadas em um bezerro escolhido como doador, um girolando com seis meses.

A partir de então no Dia 1 dessa nova fase de estudo, foi detectada elevada quantidade de Tripamastigotas circulante no sangue desse animal doador. O sangue desse mesmo animal foi utilizado para inoculação nos demais bovinos no dia Dia-0 do estudo, após nova quantificação de T. vivax, de acordo com a técnica de Brener (1961). Foram cerca de 20 animais. Os 5 restantes permaneceram no grupo sem inoculação como exige pesquisas dessa natureza.

Para cada animal foi confeccionada uma ficha de identificação e desde o Dia-1 até o Dia 30 eles passaram por observações rigorosas. Essas observações focaram possíveis anormalidades dos olhos e dos sistemas músculo-esquelético, tegumentar (pele, pelos e cascos), gastrointestinal, nervoso, urinário e linfático, inapetência alimentar, apatia e palidez de mucosa. Ainda nesse mesmo período, aferiu-se a temperatura retal e o volume globular dos animais.

Após detecção da contaminação, 12 dos 20 animais vieram a óbito durante o estudo. Esses tiveram suas carcaças submetidas a necropsia patológica para se encontrar alterações macroscópicas e possível causa mortis de cada bezerro. No final do estudo, os animais infectados com T. vivax sobreviventes, receberam cerca de três tratamentos seguintes de Diminazene 7mg/kg e somente após a constatação do controle parasitológico e clínico é que foram soltos em pastagens quando retornaram à rotina normal.

Resultados e Discussão 

As pesquisas sobre a incidência de Tripanossomose bovina em gado de leite indicam, de forma incisiva, que as práticas de ordenhas, principalmente quando da aplicação de compostos químicos nos animais, devem observar cuidados especiais com equipamentos e suas qualidades no que se refere à limpeza. Não se descobriu ainda a cura em relação ao parasito Tripanosoma vivax. Apenas o controle.

 A disseminação dá-se também com as vendas indiscriminadas de animais contaminados, muitas vezes de forma dolosa. Pode-se afirmar que a doença hoje está presente em todos os Estados da Federação (Figura 1). Devido à gravidade de sua incidência, há que se exigir o cumprimento irrestrito da Instrução Normativa 50 de setembro de 2013 do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que trata a Tripanossomose bovina como sendo doença realmente de notificação obrigatória. Isso porque, nem todos os produtores avisam o órgão público.

 Mas essa obrigação não é imediata como acontece com a aftosa, a tuberculose, a brucelose e outras zoonoses. Uma vez informados, os órgãos oficiais estaduais de controle sanitário, orientam os produtores a buscarem ajuda no seguimento particular. No caso de Goiás, o órgão de defesa sanitária, Agrodefesa, explicou que monitora a propriedade com o problema e orienta o pecuarista sobre a necessidade de exames no restante do rebanho para controle da doença. 

Pesquisa com seguimentos envolvidos

Sobre essa questão, fizemos duas pesquisas em Goiânia quando da realização da 20ª Edição da InterleiteBrasil nos dias 3 e 4 de agosto de 2022 (Figura 2) e no período de 27 a 30 de setembro também de 2022 quando da realização também na capital goiana, do IX Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite promovido pelo CBQL – Conselho Brasileiro de Qualidade do Leite (Figura 3). 

O alvo da primeira pesquisa (Figura 4) foram os produtores e técnicos sobre a possível necessidade de descarte para corte dos animais afetados mas ainda com bom escore corporal, já que a doença não tem cura, só controle e é negligenciada pela maioria dos criadores. Foram ouvidos 264 produtores. Cerca de 86% foram contrários; 8% indiferentes e 6% favoráveis. Já 64% dos técnicos num total de 84 foram favoráveis ao descarte para corte já que se trata de hemoparasitose e não afeta os humanos; 25% foram indiferentes e 11% contrários. A segunda pesquisa (Figura 5) foi realizada com os mesmos seguimentos, sendo 115 produtores, desses 67% foram contrários ao descarte dos animais, 21% favoráveis e 20% indiferentes. Com relação aos técnicos foram ouvidos 80 com os seguintes resultados: 45% contrários, 35% favoráveis e 20% indiferentes.

 

FIGURA 4: Pesquisas realizadas durante a InterleiteBrasil-2022 em Goiânia, com produtores e técnicos sobre descarte para corte de animais contaminados. Fonte: resultados originais da pesquisa.

Figura 5:Pesquisas realizadas durante o IX Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite, CBQL, em setembro de 2022 em Goiânia, com produtores e técnicos sobre o descarte ou não de animais acometidos da Tripanossomose bovina. Fonte: resultados originais das pesquisas

 

Figura 2: Panorâmica no Teatro Rio Vermelho (Goiânia – Goiás) que sediou o InterleiteBrasil   2022, evento usado como ambiente das pesquisas. Crédito de imagem: Edmar Wellingtom

Sobre os produtores 

A grande maioria entrevistada ressaltou que prefere comercializar seus animais afetados e ainda com bom escore corporal para outros produtores, em leilões ou em liquidação de plantel na própria fazenda. Isso porque conseguem melhores preços ao contrário dos frigoríficos que pagam pela arroba e não pela qualidade genética e específica desses animais de aptidão também leiteira. Perguntados sobre a transparência dessas negociações entre produtores, muitos desconversaram. Outros alegam que “se o comprador insistir na exigência do teste negativo, ele, o comprador, passa a ser descartado.” Sobre os leilões, a lei orienta que esses centros comerciais coletivos exijam apenas o teste de Brucelose. Alegam os leiloeiros que, se forem mais exigentes em relação às demais doenças, os clientes donos dos animais desaparecem.

Figura 3: Panorâmica do Auditório Lago Azul (Goiânia), quando da realização do IX Congresso Brasileiro de Qualidade do Leite do CBQL, evento também usado como ambiente das pesquisas. Crédito de imagem: Imprensa Sindileite-Goiás.

 

Sobre os técnicos

 

Os técnicos entrevistados sobre essa questão vão além. Eles explicam que muitos produtores não fazem os exames necessários sobre a incidência da doença. Entre os próprios veterinários, nem todos têm experiência na lida com a Tripanossomose vivax. Os mais experientes criticam que os profissionais com menos conhecimento, fazem a sorologia que muitas vezes dá resultado negativo. Porém, tem que ser específica para o Tripanosoma vivax. Há casos em que esses exames detectam o Tripanosoma theileri sobre o qual, muitos profissionais não dão importância. Porém, nesse caso, é necessário o exame específico sobre o Tripanosoma vivax, pois ele é o mais perigoso para os ruminantes.

 

Os custos da doença

Sobre a ideia de realizar a esterilização dos equipamentos de aplicações de produtos químicos nos animais, produtores e técnicos foram unânimes em afirmar que no caso da Tripanosomose vivax bovina, é impossível pela dinâmica rápida da ordenha e a qualidade das seringas que não suportam manejos de esterilização em altas temperaturas. Não se usa nem água sanitária, nem álcool 70, iodo ou outro químico porque só desinfetam e não eliminam o Tripanosoma vivax, embora alguns produtores em Goiás estejam usando. Comprar seringas novas é prejuízo. Um exemplo: para um produtor que tem um rebanho de 10 vacas em lactação, isso já é inviável pois (como exemplo) se cada seringa custava à época das pesquisas, em média R$ 0,45. Com duas ordenhas diárias seriam R$ 0,90 para cada animal.

 Obedecendo o ciclo de lactação de 305 dias, – quando o animal entra em regime de vaca seca, recuperando o escore corporal, – o produtor desembolsará com as 10 vacas, R$ 2.745,00 só de seringas, fora outros insumos, comentaram técnicos e pecuaristas. Sobre os exames para controle do Tripanosoma vivax, o genérico custava à época das pesquisas, R$ 15,00. Porém, não é o correto. O certo é o exame específico que custa em Goiás uma média de R$ 150,00 para cada animal. Enfim, os técnicos explicam que esse impasse em relação à Tripanossomose vai sendo ignorado por todos os seguimentos envolvidos. 

Alguns dos caminhos seriam a transparência, a conscientização dos produtores sobre o assunto e a maior exigência do poder público sobre essa questão, tanto nas esferas estaduais quanto na federal. Outra solução seria o manejo de vacas leiteiras no sentido de que na hora da ordenha, não fosse necessário o uso da ocitocina. Isso é factível segundo alguns técnicos. Porém, demanda tempo e manejo mais específico. Isso é mais fácil com gado europeu (Bos taurus) cruzado com indiano (Bos indicus). No caso de vacas puras indianas Gir, Guzerá, Sindi (Paquistão) e outras, só a presença do bezerro é capaz de fazer o leite descer. Já com animais europeus, Holandesa, Pardo Suíço, Jersey, etc, essa tarefa da aplicação da ocitocina é mais viável.

CRMV/GO

Sobre a incidência da Tripanossomose bovina, essa pesquisa ouviu também o Conselho Regional de Medicina Veterinária/Goiás. A entidade concorda que há negligência por parte do produtor no sentido de encarar melhor o problema ou seja, ter mais consciência sobre essa questão.  Como exemplo, não vender animais suspeitos de contaminação e, se for o caso de venda, ter total segurança de que os animais estão saudáveis. 

O CRMV/GO concorda que o poder público e as entidades do seguimento poderiam e muito, ajudar nesse trabalho de conscientização do produtor, pois mesmo tratando de uma doença de notificação obrigatória, essa notificação não é imediata, porque não é tratada como sendo uma zoonose. A entidade salienta também que o produtor costuma ver a Tripanossomose bovina apenas pelo viés econômico se livrando rapidamente do rebanho, quando na verdade, deveria, sim, focar também no viés sanitário. Só assim se poderá, a médio ou a longo prazos, controlar de vez esse problema que afeta, e muito, a pecuária de leite não só em Goiás, mas no resto do Brasil.

Conclusão

A partir dessas pesquisas concluo que, tendo em vista a gravidade da Tripanossomose vivax bovina e seu alto grau de contaminação com uso de equipamentos indevidos (seringas contaminadas para aplicação da ocitocina e outros químicos), os órgãos de defesa sanitária animal, tanto da esfera federal quanto das estaduais, deveriam orientar melhor o pecuarista. Saliento ainda que a Instrução Normativa IN número 50, de 2013, do MAPA, deveria focar o perfil de nossa pecuária no que se refere à sua exigência, incluindo essa enfermidade como sendo “doença de notificação obrigatória imediata”, para um tratamento mais controlado e, portanto, mais eficaz. Isso porque a Instrução Normativa 50 tem como base, normas genéricas da antiga OIE – Organização Internacional de Epizootias, enumerando que a mosca Tsé Tsé é responsável pela contaminação e no Brasil não existe esse inseto. Daí, parte a crítica dos especialistas e uma certa desconsideração em relação a esse documento de cunho federal que “orienta” as ações também estaduais 

 

Agradecimento 

Meus agradecimentos são dirigidos ao meu coorientador Dr. Thiago Bernardino de Carvalho (Esalq/USP) pelo seu profissionalismo e solicitude em relação ao meu TCC, ao Dr. Urbano dos Santos Ruiz (Esaq/USP), que fez parte também da banca examinadora de minha apresentação sobre esse TCC, também me orientando em suas considerações finais e ao médico veterinário goiano Dr. Thiago Souza Azeredo Bastos, pelo seu desprendimento quando de suas pesquisas em Goiás sobre Tripanossomose vivax bovina na defesa de sua tese de doutorado pela UFG, permitindo meu livre aceso a todos os dados e os resultados à época, para meu trabalho jornalístico sobre o assunto. Agradeço também ao Fundo Emergencial para a Sanidade Animal de Goiás – Fundepec-GO, ao Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás – Sindileite-GO e ao Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados no Estado de Goiás – Sindicarne-GO, que patrocinaram todo o meu Curso de Extensão Universitária na Modalidade de Especialização: MBA em Agronegócio Esalq/USP.

 

Referências em relação a toda pesquisa antes desse resumo

 

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Autor:

Jornalista Luiz Carlos Rodrigues – RP 539/DRT- Goiás
Bacharel em Direito – UFG-GO
MBA Agronegócio Esalq/USP
Pós-Graduação Agrocomunicação – Esalq/USP
Assessor de Comunicação – Fundepec-Goiás,
Sindileite-Goiás e Sindicarne-Goiás.