Uma das doenças que mais acometem os bezerros em seus primeiros dias de vida, é a diarreia, seguida da pneumonia, onfalopatias e tristeza parasitária. Considerado um sinal clínico, a diarreia afeta diretamente o desempenho dos animais, pois compromete a principal função do sistema intestinal, a absorção de nutrientes. São vários os fatores que devem ser considerados, quando se trata de quadros de diarreia, seja ele agente causador, ambiente, imunidade e manejo.
Vamos recapitular. Quando os bezerros nascem, as vilosidades intestinais encontram-se aptas para receber e absorver macromoléculas como as imunoglobulinas. Com o passar das horas, essa absorção diminui, pois as camadas celulares são substituídas por uma nova camada, que ao longo da vida, se adapta e aumenta sua capacidade de absorção. Isso ocorre quando adaptamos a alimentação dos bezerros, ou seja, o primeiro líquido oferecido é o colostro, que além da imunidade sistêmica, apresenta imunidade local, compostos bioativos e laxativos, preparando o intestino para as próximas refeições, como o leite de transição e leite integral posteriormente.
O leite de transição, como o próprio nome diz, é a transição do colostro para o leite integral, e auxilia o intestino a se adaptar. Como exemplo, imagine um bebê que se alimenta de substância liquida até certa idade, para depois iniciar sua alimentação sólida. Vale lembrar que tudo precisa ser ensinado, oferecido e ajustado. Nenhum bezerro nasce sabendo comer alimento sólido e, quando oferecido, não consome 1 kg logo no primeiro dia.
Durante esse processo de adaptação e ajustes na nutrição, temos os desafios ambientais. Desde o nascimento, as bezerras enfrentaram dificuldades, muitas vezes devido à falta de condições básicas de conforto, o que pode afetar sua capacidade de alimentação adequada.
Os neonatos bovinos necessitam de aspectos que forneçam o mínimo de conforto, como:
- Aquecimento nas primeiras 48 horas de vida – uma vez que seu sistema termorregulador é imaturo ao nascer;
- Condições básicas de higiene – devido rompimento do cordão umbilical ao nascimento, o qual serve como porta de entrada para microrganismos quando nascidos em ambiente contaminado, ou quando não desinfetado de maneira correta;
- Colostro com qualidade imunológica alta e contagem bacteriana baixa – devido alta colonização intestinal por microrganismos, bem como temperatura adequada de fornecimento;
- Imunização de suas mães via vacinação – com agentes prevalentes e potenciais causadores de diarreia, para garantir diminuição da gravidade dos sinais clínicos.
Como já citamos são vários fatores que influenciam no desencadeamento de um quadro de diarreia, resumidamente são eles:
- Ambiente;
- Manejo;
- Colostragem;
- Desinfecção de umbigo; e
- Conforto.
É tolerável a prevalência inferior a 25% de quadros de diarreia dentro de um bezerreiro, principalmente devido à fatores limitantes diversificados dentro de cada propriedade. O importante é realizarmos os processos com o máximo de excelência e trabalhar eliminando os fatores de risco de uma propriedade, objetivando diminuir prevalência e reduzir gravidade dos quadros.
Existem vários microrganismos envolvidos, entre eles, bactérias (E.coli, Salmonella, Clostridium), vírus (BVD, rotavírus, coronavírus) e parasitas (Eimeria, Cryptosporidium), podendo ainda estarem associados nos quadros. A idade pode variar, sendo o mais comum entre 5 e 15 dias de idade. Entretanto, o progresso do episódio segue o mesmo para todos os agentes. O microrganismo chega no intestino, coloniza ou se adere na parede e assim se inicia os sinais clínicos: alteração da função, hipersecreção como mecanismo de defesa para eliminar o agente e inflamação. Dependendo do agente causador, os sinais clínicos podem ser brandos, ou seja, apenas alteração na consistência das fezes e não há febre.
A alteração de consistência das fezes é o principal sintoma ocorrido e considerado o indicativo de diagnóstico do quadro. Juntamente com a alteração das fezes e aumento da frequência de defecação, são eliminados do organismo, vários componentes como água e eletrólitos. Assim, passamos a observar sinais clínicos de desidratação. A diarreia acompanhada de desidratação moderada/grave pode levar o animal a óbito, uma vez que compromete a funcionalidade de outros órgãos.
De acordo com a progressão do quadro, conseguimos realizar o diagnóstico de forma precoce e corrigir os sinais clínicos antes que se torne grave. Se bem examinado, os animais demonstram o início dos sinais clínicos, e quando compreendemos essa perda hidroeletrolítica, conseguimos restabelecê-los sem grandes perdas. Vale ressaltar, que é indispensável a avaliação dos fatores que risco que podem ter contribuído no desencadeamento do quadro.
Resumidamente a alteração na consistência das fezes ocorre de forma gradativa. Podemos avaliar o aspecto notando-se que as fezes passam de pastosa para cremosa, de cremosa para líquida, bem como o volume e quantidade aumentados. Para instituir o tratamento, podemos diagnosticar via escore de fezes. Dessa forma, o tratamento ocorre de acordo com o estágio que ela se encontra. Sendo assim, fezes cremosas são consideradas escore 2 e apresentam mais água e eletrólitos do que o normal. Fezes líquidas são consideradas escore 3 e há perda excessiva de água e eletrólitos, causando grave sintomas e desidratação moderada/grave.
Imagem 1. Escore de Fezes CowBaby.
De acordo com a consistência das fezes, o tratamento é realizado de maneira direcionada. Portanto, apenas realizamos suporte para que o animal consiga combater o problema. Em outra fase nota-se que as fezes estão completamente fora do padrão normal de um bezerro, existindo a necessidade de uso de fármacos para conseguir sua completa recuperação. Em todos os escores de fezes, a hidratação é indispensável, uma vez que estamos falando de um órgão de funcionalidade absortiva, cuja sua principal função está alterada.
MARIA ANDREZA ARVING MOROZ
Publicação: Portal MilkPoint Ventures
https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao-de-leite/escore-de-fezes-
no-diagnostico-a-campo-de-diarreia-em-bezerros-237487/