Qual o tamanho ideal de uma vaca leiteira

Será que o tamanho da vaca influencia na produção de leite? Essa característica tem sido alvo de muitos questionamentos por técnico e produtores nas propriedades.

Com o avançar dos estudos, principalmente, em genética e nutrição, evidenciou-se variações das demandas nutricionais nos animais e com isso os impactos sobre a produção de leite e claro, econômica.

peso corporal é uma característica de eficiência produtiva que precisa ser mais bem explorada para atingir ganhos na produção e melhora econômica na atividade da raça ao longo das gerações. Desde 1985, com a implantação do PNMGL – Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, as taxas produtivas evoluíram, com produção de leite acumulada aos 305 dias de aproximadamente 2.000 kg em 1988 para 4.500 kg, em 2018 (Embrapa Gado de Leite, 2022).

Entretanto, até o momento, poucas pesquisas têm correlacionado o peso adulto das vacas zebuínas com a produção de leite e/ou outros parâmetros produtivos. Diante dessa situação, a pesquisa avaliou os parâmetros genéticos para peso corporal e produção de leite de rebanhos Gir Leiteiro.

Neste estudo observou-se um fator importante relacionado a escassez de dados para peso dos animais leiteiros. A maior preocupação está associada a produção de leite, com coleta de dados referentes a lactação dos animais. Dessa forma, deixa-se de lado as mensurações de peso dos animais, como peso ao parto, peso à idade adulta, peso do bezerro e outros, dificultando assim a estimativa e avaliação de possíveis associações/correlações com outras características.

Durante a pesquisa foram utilizados dados de 2.339 vacas Gir Leiteiro pertencentes as fazendas: Santana da Serra, Fazenda Calciolândia e Fazenda São José do Can Can. Os animais eram nascidos entre 1978 e 2017 e pariram entre 1986 e 2019, sendo mantidos em sistema à pasto, rotacionado – durante a estação chuvosa – e com pastagem adubada (Tifton—Cynodon spp., Tanzânia e Mombaça—Panicum máximo). Além disso, receberam suplementação concentrada no cocho sempre após a ordenha. Durante o período de seca – inverno, os animais receberam como dieta: silagem de milho + concentrado. As fazendas estão localizadas, em Minas Gerais e São Paulo.

Os resultados mostraram uma associação genética positiva (0,33±0,18) entre as características de Peso da vaca ao parto- PW e Produção de leite acumulada aos 305 dias – MY305, porém de baixa magnitude (Tabela 1), indicando uma fraca associação genética entre esses parâmetros.

Entretanto observou-se um elevado erro padrão associado à estimativa, provavelmente sendo justificado pela ausência de parte das informações de peso dos animais, como destacado durante a avaliação do arquivo de dados.

Tabela 1 – Estimativa de covariâncias genéticas, ambientais permanentes, resíduais e fentotípicas e correlações genéticas e seus respectivos erros padrão (entre parênteses) entre Peso ao Parto – CW e Produção de Leite acumulada aos 305 dias – MY305.

Estimativa  de covariâncias genéticas

Tabela 2 – Estimativa de variância genética aditiva (σ2a), variância ambiental permanente (σ2 pe), variância residual (σ2 e), variância fenotípica (σ2 p), herdabilidade (h2)  e repetibilidade (r).

Estimativa de variâncias
Embora fracamente associado a Produção de Leite aos 305 dias – MY305, algum ganho genético no Peso Corporal – CW foi observado ao longo dos anos de acordo com o processo de seleção realizado até o momento (Figura 1).

Figura 1 – Estimativa de tendências genéticas para Peso ao Parto – CW (a) e  Produção de Leite acumulada aos 305 dias – MY305 (b). Valor genético médio estimado (eixo y) e ano de nascimento (eixo x). Nas etiquetas estão indicadas o número de vacas utilizadas em cada ano.

Estimativa de tendências genéticas para Peso ao Parto - CW (a) e  Produção de Leite acumulada aos 305 dias

No contexto de seleção de vacas mais pesadas, enfatiza-se que um maior peso adulto está diretamente relacionado a maiores exigências nutricionais da vaca e consequentemente maior consumo de ração (Roche et al., 2006).

Além disso, com o avanço da lactação, a produção de leite pode diminuir, mas as exigências de mantença persistem, uma vez que o tamanho e a condição corporal das vacas estão diretamente associados à mantença fisiológica.

Dessa forma, pode haver perda de proporcionalidade entre a produção de leite e o consumo de alimento, reduzindo a eficiência produtiva do sistema (Lacerda et al., 2018). Vale ressaltar que Vercesi Filho et al. (2000) também observou impacto negativo do peso corporal adulto em sistemas à pasto. Tais resultados merecem consideração elevada, principalmente se tratando de criatórios com rebanhos zebuínos, pois os mesmos estão em grande maioria em sistemas à pasto.

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Autores

Bruna Hortolani – Instituto de Zootecnia (IZ), Nova Odessa, São Paulo, Brasil
Priscila Arrigucci Bernardes – Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
Aníbal Eugênio Vercesi Filho – Instituto de Zootecnia (IZ), Nova Odessa, São Paulo, Brasil
João Cláudio do Carmo Panetto – Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil
Lenira El Faro – Instituto de Zootecnia (IZ), Nova Odessa, São Paulo, Brasil
 

Fonte: Portal MilkPoint