Renato de Sousa Faria*
O agronegócio, em seu auge, enfrenta um sério dilema: como produzir mais, para alimentar mais pessoas, sem descuidar de aspectos de sustentabilidade. Até então, a utilização de tecnologias no campo, aliada à vocação de nossos produtores rurais, tem garantido números expressivos em termos de produtividade. Porém, existe um forte anseio da sociedade por respostas aos riscos próprios da atividade, como o emprego de produtos, processos e tecnologias que não interfiram negativamente no meio ambiente.
Há que se destacar a iniciativa do Plano Nacional de Bioinsumos (Decreto nº 10375/2020) que incentiva o seu uso para o controle de pragas e doenças em lavouras, melhoria e conservação do solo e preservação ambiental. Neste caso, bioinsumo é definido como produto, processo ou tecnologia de origem vegetal, animal ou microbiana, destinado ao uso na produção, armazenamento e beneficiamento de itens agropecuários, nos sistemas de produção aquáticos ou de florestas plantadas, que interfiram positivamente no crescimento, desenvolvimento e mecanismo de resposta de animais, de plantas, de microrganismos e de substâncias derivadas e que interajam com produtos e processos físico-químicos e biológicos.
Do conceito se extrai, sem muita dificuldade, a amplitude de utilização de produtos biológicos no agronegócio. Com a iniciativa, sinaliza-se para um novo momento de evolução que se caracteriza por uma substituição gradual de produtos de base química por aqueles de origem biológica, animal, vegetal ou microbiana. Trata-se de um verdadeiro avanço, tendo em vista que, além de ser menos agressiva ao meio ambiente, a utilização de bioinsumos atende a outras necessidades do campo como a redução da dependência de produtos químicos e dos altos custos de sua utilização em larga escala.
Um forte sinal desses novos tempos é a franca expansão do mercado de bioinsumos. De acordo com informações do Ministério da Agricultura, o mercado nacional movimentou, em 2019, R$ 675 milhões, com crescimento de 15% em relação a 2018 e há uma expectativa de avanço em mais de 40% até o final deste ano no mercado na América Latina. Empresas de referência, como a Embrapa, estão envolvidas nas pesquisas destinadas ao setor e o número de registros de produtos que podem ser caracterizados como bioinsumos tem aumentado de forma relevante, segundo o Ministério.
Mas existem desafios a serem superados. Um deles é a regulação do setor que ainda está indefinida, gerando certo nível de insegurança para investidores e agentes integrantes das cadeias produtivas. Discussões importantes em função da perecibilidade destes produtos, como a adaptação dos processos produtivos, logística, armazenamento e frequência no fornecimento, são essenciais para a compreensão de elementos que podem impactar a competitividade das cadeias produtivas. Da mesma forma, temas como a possibilidade da produção de bioinsumos nas propriedades e sua distribuição trazem consigo a necessidade de estudos sobre eficiência, padronização, segurança e contaminação, que merecem atenção dos especialistas e pesquisadores.
Goiás tem condições de participar ativamente deste processo e contribuir para esta evolução com a utilização de produtos, processos e tecnologias mais sustentáveis. No território goiano, já existem biofábricas instaladas e a utilização de bioinsumos vem crescendo, acompanhando o movimento nacional. Para avançar, é essencial o tratamento regulatório deste setor com ampla discussão com todos os elos das cadeias produtivas que serão beneficiadas por este novo momento no campo. O Governo de Goiás e o agronegócio goiano possuem todas as condições de, mais uma vez, liderarem este processo, garantindo à sociedade alimentos mais saudáveis e seguros, por meio da melhoria contínua das práticas produtivas, tendo por norte a sustentabilidade.
* Renato de Sousa Faria é chefe de Gabinete da Secretaria de Agricultura do Estado de Goiás e mestre em Agronegócios pela Universidade Federal de Goiás (UFG)
(Artigo publicado originalmente no jornal Diário da Manhã, em 25 de fevereiro de 2021)